Folhas ao Vento

O vento soprava as folhas caídas ao chão naquele fim de tarde de outono e a noite caia rápido enquanto eu andava em meio a casas muito antigas de uma rua estreita. A rua começava a ficar escura e as luzes no interior das casas iam acendendo-se conforme a noite caia. O som de conversas vindo do interior das casas soava distante e os meus passos no chão de pedra ecoavam na rua.

Ao chegar ao fim daquela rua, virei ao lado e uma praça surgiu logo à frente. Enquanto caminhava em direção a ela, suas luzes acenderam-se. Árvores altas balançavam ao vento e no horizonte os últimos raios de Sol ainda coloriam o céu de vermelho. Percorri a praça e sentei-me no banco mais afastado. Olhei em direção aos outros bancos, algumas pessoas descansavam ali.
Folhas ao Vento | Créditos: Pexels

Um senhor de idade com um jornal na mão olhava distraído uma criança brincando, e um casal conversava no banco ao lado. Alguns jovens andavam juntos conversando alto e um casal de namorados caminhava de mãos dadas. Uma jovem ouvia música sentada sozinha em um dos bancos mais próximos de mim. Nos galhos das árvores, o canto dos pássaros aos poucos silenciava.

O casal que estava conversando levantou, colocou a criança nos braços e foi embora, e o senhor voltou a ler o seu jornal. Um cachorro atravessou correndo a rua ao lado quando alguns ciclistas passaram e uma jovem mal vestida caminhava vendendo doces. Os jovens que estavam conversando alto aos poucos se afastaram até sumirem de vista e o senhor que lia o seu jornal levantou com dificuldade e saiu andando de vagar pela rua que eu vim.

As pessoas iam e outras vinham, passavam por mim sem que me notassem, nenhuma delas especial, mas cada uma delas única. Aos poucos a praça começava a ficar silenciosa. Rapidamente os segundos tornavam-se minutos e os minutos acumulavam-se em horas. Por fim, o casal de namorados que estava ali desde cedo se despediu com um beijo, e um pouco depois a jovem que ouvia música levantou e saiu distraída. Apenas eu permaneci ali.

Levantei e comecei a andar na praça deserta e silenciosa. A Lua brilhava no céu, por vezes escondendo-se entre os galhos das árvores, e o vento leve balançava os galhos e movia as folhas secas caídas ao chão. Por vezes, folhas caiam das árvores levadas pelo vento. As lembranças da minha vida passavam por mim, como aquelas folhas ao vento.

Eu já fui aquela criança brincando na grama. Um daqueles jovens conversando alto. Um daquele casal de namorados que caminhava de mãos dadas. Eu era como aquela jovem que ouvia músicas despreocupada. Agora, sozinho ao luar, eu lembro da época em que eu conheci o que era felicidade. No silêncio da noite, deixo as lembranças viverem novamente.

Aos poucos as horas acumulavam-se e logo seria manhã. O canto dos pássaros começava a despertar o dia e o céu começava a clarear, o Sol logo iria nascer. As luzes apagaram-se. Outra noite terminou, mais um dia estava amanhecendo. Sentei-me novamente em um dos bancos. Eu precisava deixar as lembranças partirem e uma nova vida surgir, como mais uma noite que se vai para um novo dia nascer. Um novo dia começou.

* Adaptado de Refúgio do Tempo, inspirando em Memory.

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